O Brasil destaca-se globalmente na produção de alimentos, visando atender demandas internas e externas, com a expectativa de alcançar 600 milhões de toneladas até 2050. Contudo, é crucial controlar a produção quanto à segurança, abordando a complexa disciplina dos alimentos. Diante das transformações no sistema alimentar, a gestão da segurança dos alimentos precisa adaptar-se constantemente, especialmente para economias em desenvolvimento, pequenas empresas e agricultores.
A trajetória dessa gestão evoluiu, começando com sistemas de controle de qualidade na década de 60, progredindo para o HACCP nos anos 70 e destacando a necessidade de uma “Cultura em Segurança de Alimentos” nos anos 2000. Atualmente, a gestão de Food Safety envolve uma variedade de instituições, ferramentas e normas para abordar problemas nos processos organizacionais.
Mas, de modo geral, as tendências mundiais no consumo podem ser examinadas através de duas perspectivas. A primeira, com uma abordagem qualitativa, foca na alteração nos padrões alimentares dos consumidores. O segundo aspecto diz respeito à evolução da demanda de alimentos do ponto de vista quantitativo, considerando o potencial de crescimento e os efeitos na manutenção do fornecimento e na sustentabilidade da produção.
Desde 1990, o Ital enfatiza uma análise de tendências para alinhar suas atividades às demandas futuras. Lançado em 2010, o Brasil Food Trends 2020 abordou setores como embalagens, ingredientes alimentares e bebidas. Já o hub da Indústria de Alimentos 2030 foi criado para debater práticas nas áreas de valor nutricional e segurança de produtos.
Com o estudo, foi possível mapear macrotendências e diretrizes na segurança dos alimentos, envolvendo diversas áreas de conhecimento do instituto. Essa iniciativa visa enfrentar os desafios do sistema alimentar, dando destaque aos alimentos orgânicos e naturais dentro de mercados emergentes, uma vez que é uma categoria de produtos que evidencia um grande potencial de crescimento e expansão mundial.
Dentro dos drives e macrotendências analisados pela pesquisa Brasil Food Safety Trends 2030, os alimentos orgânicos se apresentam como aqueles relacionados a uma mudança no consumo, o que já é amplamente percebido e discutido entre os especialistas e profissionais do setor, pois atualmente há maior conhecimento sobre os benefícios desses produtos para a qualidade de vida e do meio ambiente.
Diversos fatores impulsionaram as mudanças de gestão alimentar, incluindo alterações climáticas, escassez de recursos naturais, crescimento e envelhecimento populacional, urbanização e mudanças nos padrões de consumo. Essas transformações criam desafios para garantir a segurança dos alimentos, exigindo respostas de produtores, fabricantes, varejistas, reguladores e pesquisadores.
Os desafios abrangem novos patógenos, contaminantes acidentais e perigos associados às demandas do consumidor, como alimentos “naturais” minimamente processados, pedidos on-line, tecnologias emergentes e, claro, os orgânicos. Estes fazem referência aos alimentos cultivados obedecendo às normas específicas que proíbem o uso de agroquímicos, e recebem certificação de uma agência devidamente exigida.
Em 2018, uma pesquisa norte-americana revelou que a naturalidade dos alimentos, para os consumidores, envolve a ausência de hormônios, antibióticos (53,5%), pesticidas (37,7%) e a categoria orgânica (26,0%). Estudos indicam, ainda, que orgânicos e naturais são percebidos como mais saudáveis, com menor presença de agroquímicos, hormônios e nitratos.
Contudo, é possível averiguar no próprio documento de Food Safety Trends 2030 que não há dados conclusivos sobre a superioridade nutricional e funcional dos orgânicos. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), a agricultura orgânica apresenta os mesmos padrões de segurança dos não-orgânicos; entretanto a escolha de alimentos orgânicos é influenciada por considerações sociais e ambientais.
A produção orgânica, regulamentada no Brasil, requer métodos alternativos de proteção, como bioinseticidas, exigindo estudos de segurança alimentar. Novas tecnologias de agricultura digital são esperadas para monitorar e prever contaminantes, especialmente nas formas alternativas de proteção dos trabalhadores. A regulamentação brasileira, apesar de abrangente, destaca a importância contínua da rastreabilidade e certificação para garantir a segurança dos produtos.
Por isso que, a segurança dos alimentos está intimamente ligada à tecnologia e à descoberta de novos recursos. Nenhum produto alimentício sai do campo direto à mesa do consumidor; existem, antes, as etapas de plantio, tratamento, colheita, processamento, preparo, armazenagem, transporte, industrialização e, por fim, a comercialização. Por isso, as certificações são um fator importante para os produtores e consumidores, já que atestam a qualidade e a rastreabilidade desses processos, garantindo o cumprimento das normas orgânicas, vigentes em cada país.
SOBRE O ITAL
Localizado em Campinas/SP, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) realiza pesquisa, desenvolvimento, assistência tecnológica e difusão do conhecimento nas áreas de embalagem e de processamento, conservação e segurança de alimentos e bebidas.
Fundado em 1963, vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, o Ital possui unidades técnicas especializadas em outros segmentos alimentícios e embalagens, sendo certificado na ISO 9001 com parte dos ensaios acreditados na ISO/IEC 17025.
Por meio do Centro de Inovação em Proteína Vegetal, do Núcleo de Inovação Tecnológica e da Plataforma de Inovação Tecnológica, o Ital estimula alianças estratégicas para inovação e projetos de cooperação. Possui ainda Programa de Pós-Graduação aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).