A pandemia da Covid-19 mudou o perfil de consumo das pessoas, tornando os consumidores cada vez mais preocupados com a sustentabilidade. A demanda por alimentos mais saudáveis, cuja produção seja respeitosa com os animais e benéfica para os trabalhadores, aumentou significativamente. Para acompanhar esse novo padrão de consumo, empresas estão cada vez mais em busca de certificações que comprovem práticas sustentáveis em suas produções. A Fazenda Camocim, localizada em Domingos Martins, Espírito Santo, ganhou um reconhecimento inédito no Brasil e tornou-se a primeira empresa brasileira de café a conquistar a certificação internacional Regenerative Organic Certified (ROC) em agricultura orgânica regenerativa.
Criado em 2017, o selo ROC reconhece empresas dos setores alimentício, têxtil e de matérias-primas para cuidados pessoais que conseguem regenerar o solo, proteger recursos hídricos e valorizar o bem-estar animal, além de promover avanços sociais.
A certificação é concedida pela Regenerative Organic Alliance (ROA), liderada pelas organizações Patagonia, Dr. Bronner’s e The Rodale Institute, que há muito tempo trabalham com produtos orgânicos.
O processo de avaliação da certificação ROC concentra-se em três pilares fundamentais para equilibrar produção e sustentabilidade: saúde do solo, bem-estar animal e justiça social. A saúde do solo é avaliada pelo aumento da matéria orgânica e da vida no solo ao longo do tempo, bem como pelo sequestro de carbono.
O bem-estar animal considera as condições de vida proporcionadas aos animais e a valorização da biodiversidade. A justiça social envolve a garantia de estabilidade econômica e dignidade para agricultores, pecuaristas e trabalhadores.
A Fazenda Camocim foi a primeira empresa brasileira de café a obter essa certificação. Segundo o CEO Henrique Sloper, o processo foi longo e exigente. “Essa certificação foi a mais difícil que já passei. O processo começou em janeiro de 2023 e foi aprovado agora. Demandou muito trabalho da nossa parte, mas agora temos esse selo importantíssimo para nós”, destacou.
Localizada em Pedra Azul, Domingos Martins, a Fazenda Camocim possui uma área de 300 hectares a 1.300 metros de altitude, com grãos selecionados manualmente. A produção de cafés especiais orgânicos começou nos anos 1990, por iniciativa do empresário Olivar Araújo, superintendente do Grupo Casa Sloper e pioneiro na produção de cafés orgânicos na região.
Sob a liderança do neto Henrique Sloper, a produção evoluiu para cafés especiais biodinâmicos, certificados pela Demeter. A fazenda tem produzido cafés biodinâmicos de altíssima qualidade há mais de duas décadas e, em 2017, ganhou o prêmio internacional da indústria de café, o Cup of Excellence.
Atualmente, a Fazenda Camocim oferece várias marcas, como Camocim Biodinâmico, Montanhas do Espírito Santo, Café Casa Sloper e Café Jacu, reconhecido nacional e internacionalmente como Jacu Bird Coffee, o café mais exótico do Brasil. Este café é um dos mais exóticos e caros do mundo, produzido a partir de grãos extraídos das fezes do pássaro jacu, uma espécie ameaçada de extinção e nativa da Mata Atlântica.
Henrique Sloper, CEO da Fazenda Camocim, afirmou à coluna Agro Business que a agricultura regenerativa envolve a entrega de serviços ambientais. “O café vai muito além de uma produção orgânica; é um processo rigoroso que começa no plantio agroflorestal, preservando a fauna, os recursos hídricos e os ciclos da natureza. A Fazenda Camocim é uma das primeiras fazendas biodinâmicas do Brasil”.
Cerca de 80% do café produzido na fazenda é destinado ao mercado internacional, sendo exportado para aproximadamente 27 países na Europa, Ásia e Américas. Com a certificação, Sloper pretende alcançar novos destinos e expandir a presença em países já estabelecidos. Uma das metas é atender as exigências cada vez mais rigorosas da União Europeia para padrões ambientais.
“A partir de 2025, a União Europeia implementará leis com regras mais rígidas de controle ambiental. Mas o café brasileiro, especialmente o café capixaba, está preparado para isso. Não haverá interferência. Hoje, o café do Espírito Santo é totalmente rastreado. O estado está avançando nesse sentido”, concluiu Sloper.
1962 – A Fazenda Camocim foi adquirida por Olivar Araújo, superintendente do Grupo Casa Sloper e cofundador da Aracruz Celulose. Ele foi pioneiro na produção de cafés orgânicos no Espírito Santo e dedicou 30 anos a replantar árvores, proteger nascentes e recuperar o solo, plantando espécies exóticas como eucalipto, pinus, araucária e liquidâmbar.
1996 – O cultivo de café começou em 1996 sob a liderança de Henrique Sloper Araújo. A fazenda, buscando autonomia e qualidade, passou a produzir café orgânico sem agrotóxicos. Com assessoria externa, adotaram as melhores práticas de plantação e, posteriormente, passaram a produzir café biodinâmico, que melhora a qualidade do solo e o ambiente.
1999 – A Fazenda Camocim recebeu a certificação do Instituto Biodinâmico (IBD), garantindo a autenticidade da produção orgânica. O IBD é a maior certificadora da América Latina e seus produtos são reconhecidos internacionalmente, sendo exportados para diversos países.
2006 – A fazenda iniciou a produção do Café do Jacu, um café exclusivo selecionado pelo pássaro Jacu. Em 2006, a produção era pequena, mas em 2008 atingiu cerca de 150 quilos por ano. Atualmente, são produzidas duas toneladas, com 80% sendo exportado para países como França, Japão, Austrália e Estados Unidos.
2008 – A Fazenda Camocim obteve a certificação Demeter para produtos biodinâmicos. A certificação Demeter, ligada ao Demeter International na Alemanha, assegura que o cultivo respeita todas as regras de fertilidade do solo, diversidade agrícola e ciclos cósmicos, promovendo a harmonia entre plantas, animais e meio ambiente.
Fonte: https://www.folhavitoria.com.br/economia/agro-business/2024/06/25